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sábado, 14 de fevereiro de 2009

CIDADANIA E PROFISSIONALIDADE

Questionar e desconstruir preconceitos próprios e estereótipos sociais.

“The pictures inside the heads of these human beings, the pictures of themselves, of others, of their needs, purposes, and relationship, are their public opinions. Those pictures which are acted upon by groups of people, or by individuals acting in the name of groups, are Public Opinion with capital letters”.
Walter Lippmann, 1922

"As imagens formam-se dentro da cabeça dos seres humanos: as imagens deles próprios, dos outros, das suas necessidades, propostas e relações; e das suas opiniões. Aquelas imagens que são executadas por grupos de pessoas, ou por pessoas agindo em nome de grupos, são a Opinião Pública com letras maiúsculas ". Walter Lippmann, 1922

Obviamente que alguns dos processos de aquisição cognitiva passarão pelos órgãos de comunicação social; mas não de todos, naturalmente. A maior parte adquire-se em literatura mais elaborada e, essencialmente, na riqueza das relações inter-pessoais que, dia-a-dia, nos atestam o baú do conhecimento.
A identificação dos estereótipos culturais deverá ter sempre em conta a fonte do qual brotam. Isto é: Deveremos relativizar tudo o que nos dizem porque, sempre ou quase sempre, as opiniões dimanadas estarão sujeitas a contextualizações intrinsecamente políticas e, ou, de cultura diametralmente oposta à nossa. Há diversos e importantes ícones nas sociedades que, por si só, fazem veicular imagens metafóricas que, pela sua insistência diária, levam a que o sujeito receptor – o simples e anónimo cidadão – se convença da materialização dos seus sonhos. Na verdade existe uma evidente predisposição para aceitar estereótipos truncados de conteúdo sério e nobre.
Há três anos estive em Cuba e tive a oportunidade de constatar que, em minha opinião, o maior “Dinossauro” da política mundial dos últimos cinquenta anos, Fidel Castro, pelo seu carisma e pela enraizada verdade das suas mentiras (também diz algumas verdades) conseguiu que toda a população (ou quase) seja considerada como um estereótipo cultural e social bem acima, no seu entender, de qualquer outro povo. Claro que o que lá se diz de verdade, aqui no Ocidente é mentira; mas também sei que tudo o que lá se diz de mentira, aqui é verdade! Quero com isto dizer que a Comunicação Social, lá como cá, se move por interesses que se enquadram, incontornavelmente, nos pressupostos sociopolíticos de quem tem o poder e este, na voraz propagação dos seus conceitos ideológicos, arregimenta a Comunicação Social no intuito de disseminar o farelo dos seus interesses.
Nós, Portugueses, tendemos a crer cegamente na história do passado que sublima feitos e conquistas e, talvez por isso, tenhamos criado a imagem do Português “desenrascado”, astuto e vencedor. Ora aqui está um estereótipo sociocultural falacioso e que não corresponde à imagem actual. A nossa sociedade, hoje, revê-se em arquétipos de beleza, arte, desporto e religião que mais não representam que simples paliativos para suportarem a dor da ausência de uma identidade forte, pragmática e despida de preconceitos de inferioridade em relação aos outros. Na verdade, por muito que nos custe, os autênticos estereótipos culturais e sociais (digamos assim; espero que me perdoem, se possível com água benta!) são os glorificados artistas de futebol; as belas e mui nobres modelos das revistas cor-de-rosa e de telenovelas de qualidade medíocre.
Mas percebe-se que a opinião pública se deixe emaranhar nesse gigantesco novelo de fitas luzidias. Percebe-se porque as pessoas precisam de heróis; sentem-se esfaimadas de glória e colocam-se no lugar dos seus ídolos. Para toda essa gente os modelos que veneram representam, ainda que efemeramente, tudo aquilo que gostariam de ser.
Tenho o dever de questionar e desmontar todos os preconceitos da sociedade e apontar a falta de bons e verdadeiros estereótipos sociais.
Com a tão famigerada globalização, as sociedades perderam muito das suas intrínsecas riquezas culturais. A identidade de uma estabelecida cultura vai-se confundindo com outras; e assim se perdem valores próprios e se recriam estereótipos pouco nítidos e praticamente despidos de conteúdo.
Tão ou mais grave que a dispersão (ou esvaziamento, se quiserem!) do escrínio cultural das sociedades, será a dependência, cada vez mais acentuada, dos pobres em relação aos ricos. Não podemos esquecer que sempre que existe uma redução da riqueza dos países mais prósperos, logo se fala com censurável impudência da globalização. Mas isto não é de agora! O Império Romano legislava no sentido de decapitar a força económica dos povos oprimidos, oferecendo-lhes em troca a possibilidade de se subjugarem à sua religião, usos e costumes. Sem direito a contestação! Os Egípcios mantiveram o domínio sobre uma grande parte de África, adoptando princípios idênticos.
No século XIX quando a economia europeia entrou em derrapagem, surgiu o que apelidamos de neocolonialismo, (mais tarde, em consequência de graves convulsões políticas passou a chamar-se capitalismo) cujos pressupostos de sustentação implicavam a busca selvagem de novos mercados. Os seus principais artífices foram os Americanos, Japoneses e alguns ricos países europeus como a Inglaterra e a França. Ora tomem lá… não são ricos só agora!
Ou seja: Os países endinheirados tornavam cativos os mercados pobres, transformando o continente Africano e Asiático em centro fornecedor de matéria-prima e ao mesmo tempo consumidores de produtos industrializados, gerando com isso um alto grau de exploração e dependência económica. Bem, o que se passa hoje é precisamente a mesma coisa; só que não se chama neocolonialismo ou capitalismo
(de tão agrado do romantismo ideológico de esquerda). Chama-se GLOBALIZAÇÃO!
Acreditam na possibilidade dos países desenvolvidos serem generosos com os outros? Há quem diga que sim, num manifesto atentado à inteligência daqueles que se distanciam dessa nova ordem mundial. Claro. Porque não devem acreditar na sua bondade? Então não se criam milhões de empregos nos países subdesenvolvidos? Então não é que eles agora até já têm computadores, televisão, telemóveis e todos os luxos que nós temos?
Bom, já sei: a água é pouca e cara. Mas não precisam da água porque já lhes chega a que cai abundantemente do avermelhado do seu céu. A mandioca continua a ser o prato principal da sua alimentação. Mas que diabo, eles dispensam os triglicerídeos e o colesterol. O calçado não se usa porque as suas principais estradas são de terra batida ou atapetadas de capim. Para quê usar sapatinho? As roupas não passam de singelos farrapos de linho. Mas para quê usar vestidos ou calças se o calor é diário? Então que é que lhes falta? Trabalho… muito trabalho! Os ricos recebem as jóias buriladas pelos pobres e em troca permitem-lhes o acesso à televisão. Ah! Já me ia esquecendo: mas para ver televisão é preciso electricidade! Quanto custa? Muito pouco: mais umas “horitas de trabalho”. É simples, não é?
Claro que é. É a globalização.
Como dirão os chauvinistas Franceses:
“Il est très simple cher ami: je vous donne un âne, vous me donner une vache!”
É assim mesmo: que trabalhem os negros de alma branca e os brancos de alma negra – ou enlutada pela baixela dourada da globalização.